Algumas das vozes mais lúcidas no panorama da política sexual contemporânea têm ecoado na escrita sobre algo que, mais do que um problema, já se tornou uma necessidade: o retrocesso dos avanços conseguidos pelas pessoas trans. De perspectivas muito diferentes, sempre reivindicando a diversidade e tentando explicar àquelas vozes reacionárias – às quais aderiu de forma preocupante um setor estagnado do movimento feminista – o sentido de questões como a explosão dos binarismos de gênero, a verdadeira teoria social de origem da “teoria queer” e da falsidade daquelas acusações que, vindas de várias frentes, são feitas contra aquelas pessoas que lutam para se definirem para além da ditadura essencialista.
Algumas palavras ou discursos primários e mal-informados de gente como Lidia Falcón ou Amelia Valcárcel tornaram necessária uma resposta enriquecedora e coletiva, por parte das pessoas que sempre caminharam dentro do movimento feminista e agora são vistas como perigosos “lobbies” ou ameaçadores elementos desestabilizadores.
Mas Transfeminismo o barbarie é muito mais do que tudo isso. É o pensamento recente de canetas afiadas e precisas mais ou menos conhecidas de várias partes do mundo de língua latina, como Lucas Platero, Carolina Meloni, Javier Sáez ou Aiztole Araneta, entre outros que venham novamente questionar genealogias dualistas e às vezes colonialistas, denunciando a longa e violenta pilhagem do continente latino-americano – como explica o argentino Duen Sacchi – bem como a violência, sutil ou brutal, a que continuam a ser submetidas pessoas que não vivem dentro dos limites de gênero, raça, capacitismo…
Transfeminismo o barbarie surge da preocupação de que um setor do “movimento feminista” aproprie-se dos postulados da extrema-direita em vez de abraçar e abordar a diversidade, interpretando erroneamente as palavras de pioneiras como Gloria Anzaldúa, racializada e lésbica, ou Judith Butler, famosa por colocar em evidência o caráter construído dos sexos. “A revolução será transfeminista ou não será” parece dizer de Barcelona ou da Argentina a políticos e políticas da nova linha, temerosos dessa revolução saudável em favor da inclusão, da diversificação e do reconhecimento de uma palavra própria, alheia ao estigma médico, a essas novas subjetividades, que buscam habitar “a casa da diferença”.
Transfeminismo o barbarie. Kaótika Libros
Autores: Aingeru Mayor, Aitzole Araneta, Alicia Ramos, Carmen Romero Bachiller, Carolina Meloni, Duen Sacchi, Javier Sáez, Leo Mulió, Lucas Platero, Mafe Moscoso, María Galindo, Nuria Alabao, Olga Ayuso, Patricia Reguero, Silvia L. Gil
Descrição
Transfeminismo o barbarie é uma abordagem das lutas transfeministas, bem como uma resposta plural e coletiva aos ataques transfóbicos que atualmente renascem em certos setores políticos tradicionalmente chamados de feministas. É importante que essas realidades – que hoje não deveriam ser mais problemáticas – sejam socialmente compreendidas e, consequentemente, sustentadas.
Para isso, quinze vozes referenciais e diversas, reunidas neste volume, escreveram sobre a luta feminista não exclusiva e, em alguns casos, também sobre as tão injuriadas e distorcidas conceitualmente – por alguns setores – teorias queer.
Resenha por Eduardo Nabal publicada em Parole de queer. Disponível em: <http://paroledequeer.blogspot.com/2021/02/transfeminismo-o-barbarie.html>.
Tradução: Luiz Morando.
