O mundo se assustou no domingo, 8 de janeiro, com a tomada do Congresso brasileiro pelo golpismo bolsonarista. Brasília foi invadida por milhares de pessoas radicalizadas, insatisfeitas com o resultado eleitoral, movidas pelo ódio coletivo que seu líder, Jair Bolsonaro, alimenta há anos.
Palácios foram invadidos e obras de arte danificadas ou roubadas. Ficou um rastro de destruição, o que não foi pior porque aconteceu em um domingo, quando os prédios públicos de Brasília estão praticamente vazios.
O que o Brasil viveu no dia 8 de janeiro foi, até agora, a máxima materialização do ódio de Bolsonaro. O ódio que ameaça os povos indígenas desde 2018, o ódio que aumentou os índices de feminicídio, o ódio que aprofundou a violência racista nas favelas, o ódio que atacou as pessoas LGBT+ de tantas maneiras.
O golpe não ocorreu, mas devemos permanecer vigilantes. Não só aqui no Brasil, mas em toda a América Latina. O bolsonarismo é um fenômeno brasileiro, assim como o trumpismo é estadunidense, mas há semelhanças espalhadas pelo continente.
Advertências
As terríveis cenas vistas no Brasil devem servir de alerta para a Argentina, como Javier Milei. Devem servir de alerta para o Chile, como José Antonio Kast. Devem servir de alerta para o Uruguai, como Guido Manini Ríos. Bolsonaro, Keiko Fujimori (Peru) e Nayib Bukele (El Salvador) são a representação pura da extrema-direita latino-americana, com todo o ódio de classe, racismo e violência de gênero que carregam e usam como bandeira política.
Mesmo com crises, sejam econômicas ou políticas, Argentina, Chile e Uruguai são vistos na América do Sul como democracias consolidadas. Eles se destacam na região pela boa qualidade de vida e estabilidade política, apesar das desigualdades existentes e persistentes. No entanto, com governos de extrema-direita, as coisas vão piorar para os mais pobres, para as mulheres, para os povos indígenas e para os dissidentes de sexo e de gênero. A extrema-direita, tão bem representada regionalmente por Bolsonaro, traz consigo o pior do neoliberalismo, junto com um conservadorismo profundo e um fundamentalismo cristão assassino.
Bolsonaro é um representante da morte. Negou vacinas ao povo brasileiro, mesmo em meio a uma pandemia. Também devastou terras indígenas e promoveu a violência contra a esquerda e todos os grupos que se opunham a ele. Sob seu governo, o Brasil tornou-se um país triste e doente. As instituições foram desmanteladas, o Congresso tornou-se seu cúmplice e a única resistência que permaneceu de pé, mantendo viva a democracia brasileira, embora muito enfraquecida, foi o Supremo Tribunal Federal. O Brasil não morreu, mas esteve muito perto.
Agora, esses outros países, tomando o Brasil como exemplo, não podem falhar. A esquerda latino-americana precisa entender o que os brasileiros demoram a entender: não há diálogo com o fascismo. Uma vez normalizado, vai devorar tudo. Devora os direitos sociais, devora as instituições, devora a alegria de um povo. Cresce, domina, destrói e é muito difícil de eliminar. Milei, Kast e Manini Ríos devem ser vistos como realmente são: fascistas. E com o fascismo não há diálogo. Devemos combater o fascismo.
Artigo de Lana de Holanda publicado em Pikara online magazine em 18 de janeiro de 2023. Disponível em: https://www.pikaramagazine.com/2023/01/la-maxima-materializacion-del-odio-bolsonarista/
Tradução: Luiz Morando
